sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Posso vomitar você? Calma, não vai te sujar!


Desde que entrei na faculdade, precisei voltar a fazer análise. Muita coisa aconteceu comigo de uma só vez, e eu não tenho ombros fortes, e também não sou do tipo que consegue tomar emprestado o ombro alheio com muita facilidade. Acho o ombro uma coisa muito íntima, não é em qualquer um que você chora não Fagner - desde que seja sóbrio - assim como não é em qualquer mão que você segura pra caminhar por ai. Enfim, as análises me ajudam muito, não que eu seja psicótica - ou sim ... - mas eu precisava dividir minhas angústias com alguém, e ninguém melhor que um cara sendo pago pra isso, que não vai me dar palpites pessoais, e sim me conduzir nessa jornada chamada sacanagem ... digo, vida.
O consultório do analista é inacreditável. Afinal, é uma clínica de doentes mentais assumidos, sim assumidos, porque eu creio que todo mundo seja doente mental, alguns apenas prefrem fingir para si mesmos que são super normais, ouvindo funk, usando oakley e se relacionando com mulheres que vão ao baile sem calcinha ... tái, comportamento mais normal impossível, não é?! Prefiro os anormais que estão mensalmente comigo na sala de espera, vendo a TV - E OH! é o ápice da sala de espera - todos os loucos ali, vendo a globo e comentando loucamente a programação, e acreditem, comentários realmente absurdos, coisa de quem vive em outra dimensão e consegue ver BEM além. E hoje, só pra variar, eu nessa missão de não ser um atrativo para estranhos virem puxar papo, falhei. Uma senhora que se sentou ao meu lado, fez questão de narrar todo o sua dia-a-dia louco pra mim. Remédios, religião, família, comida, novela, crochê, doenças - foi até indiscretíssima me dizendo que estava menstruada e usando uma fralda tamanho G de criança, e isso me fez imaginar coisas nada cabíveis de serem escritas - e eu ali, calada com meu sorriso meia lua, como quem se pergunta " e eu com isso?" ouvindo a senhora me dizer, que o filho era casado com uma mulher nada prendada e muito fogosa - Nelson Rodrigues teria um roteiro para isso, eu sei que teria - no fim das contas, me apeguei ao sentimento de compaixão - sim, eu tenho um coração- e senti um pouco de pena dela, era uma mulher sofrida, mas era feliz.
Mas ai é que está : um dos motivos que me levam a fazer análise, é não ter facilidade em me relacionar com as pessoas. Odeio o verbo"relacionar", quando em sentido de "ter tratado social com alguém". Julguem-me anti-social ou o que for, tenho meu bom motivo pra isso. Eis o motivo : Você conhece, você se relaciona, você se apega, você por algum motivo maldito, tem que desapegar. Simples assim. Prefiro então, não conhecer muitas pessoas, e me relacionar com o menor número possível, assim eu não tenho que perder dias e noites me "desapegando", já sou por natureza desapegada.
E foi narrando casos de fuga dos relacionamentos, que eu acabei numa conversa reveladora no consultório. Eu tenho bulimia nervosa, logo de brinde a tal anorexia e descobri o por que disso graças a coxinha da faculdade, e a falta de amor no coração. Comer é um ato de relacionar-se. Quando nós comemos, sentimos prazer, gostamos daquilo. Nos relacionamos com o que comemos - sim, você tem o tipo de um orgasmo quando come um super BK com muito cheddar - e eu, amava a coxinha da faculdade. Um dia, por sinal um dia após uma noite muito cheia do tal verbo aqui causador da discórdia, eu comi a adorada coxinha, e : RAUL! Lá se iniciou mais um ciclo triste, desse que você ouve mentalmente a canção "Love by grace" e se vê com dificuldade de fazer algo tão comum para todo o resto do mundo, comer.
Quando meu analista, após me ouvir narrar comicamente todas as minhas fugas de conversas e relacionamentos, me disse que ai estava um dos fatores da minha fuga a comida, eu fiquei chocada e pensei : genial!!! Era isso - além de outros poréns que só Freud e minha infância zombeteira explicam - pela primeira vez, simpatizei com o analista e quase senti vontade de abraçá-lo ! Quase, abraço é muito pessoal.
E por fim, eu ali contente de ouvir algo tão genial e admirando meu analista, pensando no quanto era bom tê-lo como MEU analista, ouço ele me dizer que na próxima análise iremos nos despedir, ele está de partida da clínica, e eu serei encaminhada a outro analista.
Odeio o verbo "relacionar", lembram?

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