segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Passo!


O negócio é que desde que eu me lembre de ser "gente", eu ouço que "é para o futuro”. Na pré-escola desenhei um Sol sorrindo e um pé de melancias, e ouvi a professora dizer "que lindo desenho, mostra que no futuro você será talentosa, mas melancias não nascem em árvores". Fui para o primário, chutei as partes quentes de um garoto até ele desmaiar e ouvi a diretora dizer para o meu pai “cuidado, pode ser sinal de um futuro complicado”, fui para o ginásio menstruei no dia da Educação Física e todos os coleguinhas viram e riram de mim, e ouvi desconsolada o consolo da professora “ você virou uma moça, e no futuro será uma mulher” , passei para o Ensino Médio tomei meu primeiro porre e ouvi o meu pai dizer ao pé da cama enquanto eu vomitava “nós temos parentes alcoólatras, o que você quer do seu futuro?”, me formei, fiquei anos na boa vida boêmia ouvindo “já pensou no que vai fazer do futuro?”, arrumei um pseudo-namoradinho praticante da desordem que repetia diversas vezes “eu sou o seu futuro” , desisti de ter um relacionamento sério exatamente por isso; decidi ir para um cursinho pré-vestibular, enrolar mais um pouco e passei a afirmar que estava “investindo no futuro”, passei no vestibular, entrei na faculdade, errei o curso, passei a beber mais ainda, ainda desenho o Sol sorridente e árvores de melancia, mentalmente eu chuto partes quentes de homens, resolvi que a ciência não me faria menstruar nunca mais - assim não preciso saber quando devo ser mulher – continuo comparando pessoas e miojos, e preferindo os tomates, e não , eu ainda não descobri que diabos o futuro tem com isso, e onde é que fica esse estágio da vida.

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