domingo, 11 de dezembro de 2011

Mini Flashback de época;


De repente, você está no shopping com a família, pela 23° vez da sua vida, vendo árvores de Natal, luzes coloridas e ouvindo aquele dingou natalino que em 23 anos continua repetitivo e em excesso provoca alucinações. É ai que sua mente entra no clima do Natal, e você olha para os lados e se depara com milhares de pessoas pobres gastando o 13° com coisas inúteis para dizer que fazem parte da festa. Você nem precisa ter Síndrome do Pânico para sentir todos os sintomas da mesma, no momento em que começar esse processo cerebral, chamado "Compras de Natal".
O dingou toca, o Papai Noel - agora moderno, mecanizado que sobe e desce escadas, desce de balões, pula de para quedas e logo menos aparece numa rave- abraça criancinhas, as pessoas sorriem, tiram fotografias e se exibem com suas dezenas de sacolas de lojas pseudo-grifes.
Em alguns minutos o quadro muda, o Papai Noel estará sendo atacado por milhares de crianças que na verdade são serezinhos nojentos praticantes de pulsões e fases sexuais das quais você conhece porque leu Freud. E esse também é o momento que você vê os adultos, e entende o porque as crianças um dia precisam de tais atos repulsivos, é tudo um treino.
O dingou parece mais intenso agora, e é o momento em que sua família está demorando no balcão de pagamentos de uma dessas lojas pseudo-grifes, e você está impaciente do lado de fora, sentado num banco e observando o que era um shopping, virar o inferno. É o momento de reparar - reparar na tia com a blusa tamanho P e os seios tamanho extra-GG, na garota de 13 anos com estilo de avassaladora do funk para ser mulher antes da hora, no garoto emo, na família grande que levou todas as 366632239 crianças para passear no fast food, na moça usando um salto plataforma estilo "o homem pisou na Lua", no casal jovem de pouca beleza mas muito amor, e no casal com bebê onde por infelicidade a bebê puxou o pai - eis o conflito mental, que você retrocede seus 23 anos e pensa : o que diabos eu fiz da minha vida?
Cinco elencos de apoios, uma dúzia de figurações, um game em programa de domingo, uma apresentação de pirofagia ao vivo numa TV aberta, onde você entendeu a importância de um bombeiro, um evento infantil onde você descobriu que moldar balões é mesmo uma arte, uma promoção de colchões vestida de Bob Esponja onde vocÊ aprendeu a valorizar os caras fantasiados de Mickey distribuindo balas em dia das crianças, as dezenas de noites infelizes dançando em balada eletrônica e trabalhando no bar, onde você descobriu que era alcólatra, o atendimento call center de uma empresa aérea, onde você descobriu que aviões caem mesmo, e que viajar em terra firme é sempre mais seguro, desfiles onde você descobriu que repetir para si mesmo "eu não vou tropeçar" pode falhar, apresentações de comédia, onde você aprendeu que quem deve rir é a plateia, que em vestibulares, quem mete o louco sempre vence e isso vai valer na faculdade, e o mais importante: vodka, soda e suco podem causar coma alcoólico e vomito na frente do cara que você sempre sonhou chegar perto, e desde esse minuto, sonha em nunca mais ver.
E foi isso que eu fiz em minha vida ...
Ai o dingo volta a tocar, você volta para o shopping e decide que se jogar do terceiro andar na fonte das carpas, ainda não é uma boa ideia, afinal você nem teve status de relacionamento no Facebook, nunca pegou um diploma, não teve os seios tamanho extra-GG numa mini-blusa PP e não, você ainda não aprendeu que deve encenar comédia sem rir antes de terminar o tempo da piada.

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