Posso inspirar com todas as minhas forças, o ar parecer não vir. Posso estralar mil vezes os dedos das mãos, elas parecem não aquietar. No estômago, a sensação de algo que comi e me feriu; na boca, o gosto amargo do ferimento. Porém os olhos não me lavam o rosto a muito tempo. Tenho a impressão que me acostumei com algo insuportável, a ponto de tornar tudo o que sinto insensível.
Não existe mais abraço, nem ombro amigo. Existem amigos que eu não reconheço mais. Não existe mais zona de conforto, existe a inquietude de voltar devido uma falha. Não existe completude, existem dúvidas que se negam a dar explicações. Não existe felicidade, existem momentos de fúria onde o eu entra em completa negação com uma realidade tão mudada.
Onde foram parar as pessoas que eu deixei aqui? E as que agreguei a pouco, que me pareciam tão certas de estar aqui, onde foram parar?
Existe uma casca, existe uma farsa, existem tantos erros. E existe uma ferida grande demais que talvez seja a única verdade. Sou o conselho, o ombro amigo, o ouvido e o cérebro. Não o pedinte, a cabeça, a boca e o coração.