quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Memórias de um Sargento de Milícias;

Um romance um tanto quanto diferente, escrito por Manuel Antônio de Almeida e que foi publicado como folhetim no Correio Mercantil, de 1852 a 1853 anonimamente; O livro veio a ser publicado em 1854, um ano depois, e no lugar do autor apenas constava "um brasileiro". Tal brasileiro de origem humilde, deixa claro que isso muito contribuiu no desenvolvimento de sua obra, que se passa em ambiente de classe média para baixa.
A história se passa no Rio de Janeiro em meados do século XIX, e apesar de classificada no romantismo, a obra foge dos padrões românticos o tempo todo, contrariando a idealização do amor em alguns trechos, não idealizando a mulher e entregando humor e ironia ao leitor a cada página. O que deveria ser o 'herói' romântico do enredo, mostra-se vagabundo e desordeiro desde o primeiro dia em que chega ao mundo. Leonardinho (Leonardo) que recebe o nome do pai, Leonardo-pataca , que com alguns beliscões seguidos de umas "pisadelas" conquista Maria da feira (ou das hortaliças) e desse relacionamento nasce o tal futuro sargento de milícias. Os personagens em maioria, recebem um apelido seguido do nome, ou nem ao menos recebem nome sendo só vulgo. Como é o caso da "Comadre" , que aparece na história do começo ao fim, sem que em nenhum momento o autor lhe cite o nome, são estas personagens alegorias, representações simbólicas. Isso acontece com outros personagens.
Foi publicado em folhetim, ou seja, uma espécie de "novela escrita" da época, onde o autor publicava contos em capítulos separados, sempre com um final de suspense para prender o leitor, além do que, anonimante, Manuel Antônio de Almeida não assinava, e quando foi publicado na versão de um livro, um ano após o folhetim, o autor assina a obra como "um brasileiro" o que na minha opinião não deixa de ser anonimato.
Como já citei, é diferente de outros romances, já começando pelo casal português que no navio em rumo ao Rio de Janeiro, se apaixonam de uma forma não muito convencional, onde ele a "belisca" e ela corresponde com uma "pisadela" (pisar...pisar gente), e são desses beliscões e pisadelas que nasce o "herói" da obra, Leonardo. (em particular, no inicio me confundi bastante entre o Leonardo pai e o Leonardo principal, filho) este que é nosso alvo romântico, só mostra tal romantismo em poucas páginas, sendo praticamente todas as outras, obras de suas vadiagens e peripécias, desde de muito menino, este já se mostra inquieto e desordeiro, o que o salva de não ser de completo um vagabundo, é seu padrinho, que logo o adota, já que Maria da feira trai Leonardo pataca (o pai) e estes se separam abandonando o Leonardinho. O grande palco das arruaças de Leonardinho, é a Sé, onde seu padrinho (O barbeiro, que também não tem nome ...) o coloca para estudar e tornar-se um dia Padre, porém o garoto espirituoso apronta até ser posto dali para fora.
Assim, Leonardinho torna-se Leonardo, que mesmo moço não deixa os hábitos duvidosos, uma característica da obra, tendo personagens planos, ou seja, personagens que não mudam ao longo da história. Porém , em certo momento Leonardo mostra-se digno de ser o herói do romance, quando se apaixona primeiramente por Luisinha, a quem chega até a se declarar, mas no meio do caminho, tornam suas arruaças a aparecer, o fazendo ser sempre perseguido pelo Major Vidigal, personagem que representa a ordem local; Leonardo também se apaixona uma segunda vez, esta por uma moça ao oposto de Luisinha, mulata sensual e cheia de pretendentes para fazer concorrência com Leonardo. Ele a ganha, porém a perde por uma aventura com uma personagem que aparece muito rápido na história, e que nem nome nem apelido ganha, esta apenas era a mulher do "toma largura" que era outro que nome não tinha.
Sem Luisinha, (esta se casa com um dos vilões da história, José Manuel) e sem a mulata Vidinha, Leonardo torna as suas arruaças, até ser preso pelo Major Vidigal. Este que nota que o rapaz é muito ligeiro, o coloca em um cargo militar, logo Leonardo faz parte da guarda militar de que outrora fugia. Mas, Leonardo não se emenda, e volta aprontar até mesmo em sua função militar, sendo assim castigado algumas vezes. Quando o vilão José Manuel, morre, Luisinha que sofrera muito no casamento com este e sentia falta de Leonardo, fica viúva e livre, entram em ação as personagens dona Maria sua tia, a comadre, e Maria-regalada (sim, muitas marias...) que salvam Leonardo do castigo mais cruel que o Major Vidigal o iria aplicar por tais desordens, para que Leonardo fique livre e com Luisinha. Ai, no fim do enredo, o romance tradicional aparece,e enfim, Leonardo se casa com sua amada Luisinha, na Sé, mesmo local onde tantas coisas aprontou.
"Já naquele tempo (e dizem que é defeito do nosso) o empenho, o compadresco, eram uma mola real de todo movimento social;"
Gosto desse trecho e concordo com ele, é defeito do nosso tempo que alguns alcancem certas coisas apenas por "compadrio". E nesse trecho o autor deixa clara outra característica da obra, a "verossimilhança", relação ambígua entre imagem e idéia. Onde o autor faz algumas criticas sociais.Outro exemplo, onde o autor faz uma critica a sua época, entre uma relação de um Padre com uma cigana:
"No mesmo instante viu aparecer o granadeiro trazendo pelo braço o Rev. Mestre-de-Cerimônias em ceroulas curtas e largas, de meias pretas, sapatos de fivela, e solidéu à cabeça. Apesar dos aparos em que se achavam, todos desataram a rir: só ele e a cigana choravam de envergonhados."
Faz parte a obra, o autor querer divertir o leitor com problemas sociais de sua época, não é usada a linguagem metafórica com idealização do amor, sendo em algumas partes o amor, ironizado; A obra é escrita no período literário classificado Romantismo, porem, não apresenta as características mais notáveis deste período.

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