sábado, 16 de outubro de 2010

O Cortiço;

Entre todos da lista do vestibular, creio que este seja o mais divertido e mais curioso de ler.O Cortiço, é um romance de Aluísio Azevedo, que foi lançado em 1890, marcando o Naturalismo Brasileiro. Dramático em alguns capítulos, cômico em outros.
É divertido e curioso, já que temos uma grande movimentação de personagens ao longo do enredo, e estes são muitos. Quase todos representando um tipo psicológico, um tipo social, lavadeiras, policias, capoeiras, a elite, os caixeiros trabalhadores de uma pedreira...
Mas, entre esses tipos, que movimentam-se ao longo da história, temos as personagens principais, que também tem por trás da personagem em si, um tipo psicológico:
João Romão, é o dono do cortiço e da pedreira. Ele representa o capitalismo, a exploração.
Bertoleza: É uma negra escrava fugitiva, quitandeira e que vai juntar-se á João Romão, pra quem vai trabalhar muito, para no fim das contas não levar nada.
Miranda: É um comerciante Português, casado com D. Estela, a quem odeia profundamente, e ela o odeia também. Porém, ele aburguesado,continua ao lado da esposa odiada, já que a riqueza que possuí, na verdade é dela. Tem um sobrado ao lado do cortiço.
Jerônimo: Português, trabalhador da pedreira de João Romão, e morador do Cortiço, representa a disciplina , até conhecer o jeito "brasileiro" de ser.
Rita Baiana: mulata sensual de sangue quente, lavadeira e moradora do cortiço, representa a mulher brasileira. E a perdição de Jerônimo.
Piedade: o nome já diz muito, já que boa parte da história é o sentimento que temos por esta, piedade. É mulher de Jerônimo, portuguesa também.Representa a mulher Europeia.
Capoeira Firmo: mulato amante de Rita Baiana, representa um tipo brasileiro.
Essas são as personagens principais, porém em minha opinião, a história é bem distribuída pra tantos personagens, que até esquecemos que existem alguns principais. Vai ser difícil resumir a história, exatamente por ter tantas personagens e ser tão movimentada, então irei resumir pouca coisa, dos capítulos que mais gostei.
O nome do livro o resume bem, O Cortiço. Logo vem na mente, um lugar cheio de casinhas amontoadas, pouca privacidade e grande coletividade. E é exatamente isso. Um pátio onde todos conversam sobre todos, onde todos vêem a vida dos outros, onde festejam juntos e onde acontecem as brigas. Isso, é uma tese Naturalista, expor o ambiente. Onde podemos analizar as consequências e comportamentos das pessoas em relação ao meio em que vivem. Outra marca do Naturalismo, é a forma em que a história é narrada, onde o narrador fica em terceira pessoa onisciente, ou seja, ele sabe de tudo o que acontece, ele conhece os desejos das personagens, comenta sobre elas, julga, e até tenta provar de forma científica, alguns de seus comportamentos. O zoomorfismo também aparece, sendo uma forma de comparar as personagens com animais, essa característica fica bem acentuada em relação a promiscuidade das personagens, e a forma em que os desejos sexuais tornam-se instintos primitivos, necessidade, e o amor, bom o amor fica para trás, dando lugar a paixões ardentes.
Miranda odeia sua mulher, D. Estela, e ela o odeia, ela o trai, ele sabe. Porém, ele por necessidade e por prazer um tanto animal, costuma fazer visitas ao quarto dela a noite, sem nada dizer quando entra, e sem nada dizer quando sai depois de satisfeito, ela promiscua que é, nada reclama. Eles habitam um sobrado ao lado do cortiço, vivem bem e Miranda chega até a ser Barão. Já ao lado, João Romão mantém um cortiço, onde vivem muitos de seus trabalhadores da pedreira. João Romão é largado apesar do dinheiro, por ser avarento. Tem mau caráter, engana a pobre Bertoleza, que é escrava fugitiva, dizendo que assina sua liberdade se esta ao seu lado ficar, ela achando que teria um marido, logo tem outro dono, e trabalha maquinalmente para que este fique mais rico. No cortiço, além do trabalhores de João Romão, estão as lavadeiras, que marcam presença na história. São mulheres brasileiras, portuguesas, italianas, trabalhadoras, fuxiqueiras, justiceiras, algumas mães solteiras, outras com maridos ingratos e alcoolatras, os "ébrios" em sua embriagues também aparecem muito, mostrando no álcool um refugio daquela vida difícil. Muitas mulheres engravidam com um filho no colo, e um ao pé correndo. Muitas perdem os filhos por conta da vida corrida, deixando que vivam soltos demais. Em meio a toda essa bagunça em que as personagens são comparadas a vermes, que só comem e se procriam, vive Pombinha, a personagem doce, meiga pura, que espera aos 18 sua primeira menstruação para que se torne mulher e possa se casar. Todos no cortiço sabem, e todos os dias as personagens perguntam a mãe de Pombinha a D. Isabel " e então, já veio?" numa amostra de que ali, todos sabem da vida de todos. Pombinha casta e decente, é amiga de Léonie, uma francesa "cocote" (prostituta), e a visita algumas vezes, até que Léonie, a seduz, e Pombinha tem sua primeira relação sexual com Léonie. Dia seguinte Pombinha torna-se mulher de fato, e até chega a se casar, porem, por ser a escrivã do cortiço, onde ela escrevia cartas ditadas de seus vizinhos, ela conhece os pensamentos masculinos, Pombinha percebe que os homens são figuras desprezíveis, que costumam dar valor a mulheres sem escrúpulos, e que por trás de todo o sexo forte, esconde-se o sexo frágil de pequenas figuras irracionais, mais uma vez, o zoomorfismo. Então, ela começa a trair seu marido, torna-se lésbica amante de Léonie, e vira prostitua também. Enquanto no cortiço, Jerônimo prova a tese de Pombinha em relação aos homens, larga sua devota esposa Piedade, torna-se amante de Rita Baiana, quase morre por conta de uma briga com o amante da mulata, depois o mata, larga a esposa e a filha ao Deus dará, e junta-se com Rita, logo torna-se alcoolatra, preguiçoso, e infeliz, tendo apenas o sexo da mulata e a cega paixão. Ao final, João Romão interessado na filha do vizinho burguês e encantado com o titulo de Barão que aquele tem, começa a usufruir do dinheiro que conseguiu explorando os trabalhadores e moradores do cortiço, veste-se bem, come bem, e quando esta tão burgês quanto o invejado vizinho, percebe que a negra Bertoleza, a quem outrora colocou dentro de sua casa como escrava até mesmo de sua cama, agora irá lhe atrapalhar com o futuro casamento. Então planeja mata-la, porem fracassa, tenta convencer ela a se contentar com uma nova quitanda e algum dinheiro, porem esta deseja dignidade e futuro para sua velhice. Então, João Romão junto de um cúmplice, lembra-se de que ela ainda é escrava fugida, já que ele a enganou com uma falsa carta de alforia. Ele procura o dono de Bertoleza, diz onde ela se encontra e ele vai busca-la. Bertoleza ao ver seu Dono , tenta fugir sem sucesso, e então, com a faca que limpava alguns peixes para cozinhar, abre a barriga de lado a lado, caindo morta em demonstração de preferir a morte ao voltar a escravidão. E ela morre em vão, porque minutos depois de sua morte, uma comissão abolicionista chega. ( o livro acaba ai, e eu sinceramente não gostei do fim.)
Festas com muita comida e bebida apesar da vida pobre, muitas fofocas, muito trabalho, muita briga, muito sexo, muita polêmica, incêndios, mortes.
Esses são temas abordados, onde o tempo todo o narrador compara as personagens a animais, e os espaços são divididos, de um lado o cortiço e seus pobres moradores pobres. Do outro, os burgueses estrangeiros, esbanjando riqueza e falta de ânimo, a então desigualdade social também fica marcada no livro de Aluísio Azevedo.

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