sábado, 23 de outubro de 2010

Capitães da Areia;

Um livro de forte impacto social, que foi polêmico desde seu lançamento, em 1937. Retratando o descaso e o abandono, o livro fala de crianças de rua. Tendo como cenário a Bahia e seus costumes, o autor Jorge Amado nos mostra um pouco da cultura local.
Nos primeiros capítulos, segue-se algumas pseudo reportagens sobre os Capitães da Areia, grupo de menores abandonados da Bahia, que furtam para sobreviver. Morando em um velho trapiche (Grande armazém, próximo de um cais, onde se depositam e guardam mercadorias importadas ou que devem ser exportadas.) as crianças levam a vida de uma forma diferente das outras crianças. Apesar da pouca idade, os meninos levam a vida como homens, tendo uma visão politizada, sobre o descaso dos mais ricos para com os mais pobres, e sobre as autoridades, que invéz de ajuda, lhes viram as costas, assim mostra o reformátorio, para onde um dos garotos chega a ser enviado após ser capturado pela policia em um assalto. O reformátorio que deveria educa-lo e oferecer-lhe abrigo, mostra uma autoridade desumana, maltratando e escravizando os pequenos infratores, e esses, óbviamente não se "reformam".
O enredo é polêmico. Alguns exemplares do livro, foram queimados em praça pública junto a outros livros de Jorge Amado, que enfrentava problemas na época, de ditadura militar, por ser filiado ao Partido Comunista Brasileiro.O livro, que é de todo uma critica social, mostrando como vilões o clero e o poder civil, com certeza não seria bem vindo numa época de repressão.
Além da critica , o enredo conta a história de todas as personagens, de forma que o autor escreve em terceira pessoa, algumas vezes tendo o narrador onisciente, mostrnado a visão de cada personagem, e comentado sobre elas, outras vezes, esquecendo as personagens e focando no espaço, nos cenários bahianos.
O grupo de crianças abandonadas, Capitães da Areia atua de uma forma em que, roubar dos mais ricos, e dar aos necessitados, seria uma politica justa. Não exatamente violentos, mas em alguns momentos, devido a revolta e a falta de atenção, tornan-se violentos pela necessidade. São crianças, mas pela vida que levam, já não tem uma visão infantil sobre o mundo injusto em que vivem. Também não são crianças em relação a sí próprios, já que todos levam uma vida sexual, e até mesmo o homossexualismo é apresentado entre o grupo, que por falta de carinho, buscam no sexo suprir essa falta, confundindo o amor e o sexo. Mas, o personagem principal, Pedro Bala, um menino visto como "pai de todos", se apaixona por Dora, que perdeu a familia em uma epidemina de varíola que chega até mesmo a matar um dos Capitães da Areia. Dora, orfã com seu irmãozinho pequeno, é encontrada por tres capitães da areia e levada ao trapiche, onde depois de muita confusão é aceita, e só é aceita porque o líder, Pedro Bala permite. Quando Pedro se apaixona por ela, ele então descobre que existe um amor diferente daquele que ele conhece. Um amor puro, que o sexo vem em segundo plano. Isso, acontece com todos os outros integrantes do grupo, um a um, descobrem em Dora, o amor, porém de formas diferentes, muitos como amor de mãe, outros como amor de irmã, e Pedro bala, como amor de "noiva". (que fique claro que as personagens tem entre 11 a 16 anos em média). Além de Pedro, outro se apaixona por Dora. O Professor. Assim chamado porque é o único do grupo que sabe ler, e então conta histórias para os outros meninos. Além de ler, desenha muito bem e é muito talentoso, não gosta da vida que leva, assim como "Pirulito" um menino com vocação sacerdotal, que sonha servir a Deus e tornar-se Padre.Outro que ao meu ver, marca o enredo, é sem-pernas. Um garoto deficiente, sem os movimentos de uma perna , carente de afeto, e portanto o mais violento do grupo. Sem-pernas marca o livro, em um capítulo onde executa o que sabe fazer de melhor: fingir-se inocente e abandonado, uma pobre criança defeituosa perdida no mundo, fanzendo com que familias ricas lhe dêem abrigo e comida, para poder demarcar a casa, e depois dizer ao grupo onde ficam os objetos de valor, e assim, armar um roubo. Porem, em umas dessas armações, sem-pernas encontra uma boa família, que perdeu um filho da mesma idade que ele, e diferente de todas as outras familias que lhe deram abrigo, esta o tem como filho , dando o tal carinho que ele nunca havia tido, segue-se um dilema em que o menino não sabe se é pior trair o grupo ou trair a mãe que nunca teve. (comentário pessoal, chorei muito nesse capítulo que é, muito triste.)

Ao desenrolar do enredo, as personagens crescem, aparecem novos capitães, alguns seguem outro rumo, e alguns morrem.
Creio que seja um dos melhores livros de literatura brasileira, e que não é a toa que está na lista dos melhores vestibulares. O livro causa impacto no leitor, que tem uma visão interna de um problema descrito nos anos 30, mas que é muito atual. Jorge Amado chegou a conversar e passar alguns dias entre jovens abandonados para poder escrever o livro. Valendo mais ainda as informações nele contidas, porque além de literatura e "estória" temos uma "história" que continua a estender-se ao longo dos séculos e presente nos dias de hoje.

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