Nada breve o olhar que transpassa a fresta da janela, lá fora chove. Pouco se pode ver em meio às gotas d'água junto ao vento, mesmo assim ela se mantém ali, olhando estaticamente para o nada que se faz lá fora.
- Tem tempo ai.
- Eu sei...
- Não se cansa?
- Não.
- O que tanto olha? Lá fora só faz chover...
- Chove? Não olho nada.
- Se não olha, o que pensa ai calada, olhando para fora?
-Não penso nada.
- Bom... Já foi servido o jantar, não vem?
- Não estou com fome.
- Tudo bem então, mas feche um pouco isso, está ventando e faz frio aqui.
- Não sinto.
- Não sente o frio que faz? Qual é o seu problema?
- Nada. Não sinto nada...
Silencia, sai. Lá fora continua a chover, lá dentro ela continua a não sentir.
2 comentários:
será que existe um "eu" que só as palavras conseguem expressar? Se sim, é esse seu "eu" o meu favorito, diria até, furtivamente apaixonante.
Existe o "eu" desfragmentado. Bom saber que foi perceptível.
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